terça-feira, 11 de março de 2008

Para todos os gostos



Tenho sido relapso com o Carta de Vinhos, mas por ora não há remédio para isso. A carga de trabalho está grande e este espaço é um hobby, não uma obrigação. Quando não dá, não dá. A solução definitiva, no entanto, virá em breve. Meu blog já está sendo transformado em um site maior e mais completo, que será feito por mim e por outros dois blogueiros apaixonados por vinhos e gastronomia. É bem capaz de a nova página entrar no ar em abril. Aí, espero, teremos mais braços para abastecer os amigos enófilos com o conteúdo que eles merecem.


Feita a mea culpa, feita a promessa, vamos ao que interessa: os vinhos. Meu consolo é que, se não tenho conseguido escrever sobre eles o tanto que gostaria, pelo menos tenho bebido razoavelmente bem (ninguém é de ferro). Do que degustei nas últimas duas semanas, separei alguns rótulos que acho que merecem comentários. O painel abaixo traz produtos para todos os gostos e para (quase) todos os bolsos, embora, reconheço, a média de preços esteja meio alta. Vamos lá:


Basa Rueda 2006 – Um ótimo branco espanhol do grande enólogo Telmo Rodrigues elaborado com um corte de Verdejo 50%, Sauvignon Blanc 10% e Viura 40%. Custa cerca de R$ 38 na Mistral e vale cada centavo. Bem mais delicado que os Chardonnays cheios de madeira que andam por aí. Tomei no bistrô Allez! Allez!, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Acompanhou divinamente um badejo com molho limão, porque este vinho tem aromas cítricos evidentes, lembra muito lima. O problema é que o Allez! Allez! cobrou R$ 80 pela garrafa. Depois, quando vi o preço na Mistral, bateu aquela sensação de dinheiro jogado fora... até quando vai durar essa mentalidade de margens de mais de 100% para vinhos em restaurante?


Montes Alpha Cabernet Sauvignon 2005 – Um clássico do Chile, vendido na Mistral a cerca de R$ 65. Toda a vez que tomo, lembro por que a Montes é a vinícola que é. Está aí uma excelente opção para o enófilo iniciante que quer começar a botar o pé no mundo dos vinhos sérios. Ou para os enófilos veteranos tomarem toda a vez que quiserem algo bom a um preço que não faz engolir em seco. Uma bela opção, sempre.


Châteauneuf-du-Pape Clos des Papes 2005 – Este é o arrasa-quarteirão que ficou em primeiro lugar na lista dos top 100 de 2007 da Wine Spectator. Significa que é o melhor vinho do mundo? Não, não é. Mas certamente está entre os grandes. A revista conferiu nota 98, que tendo a achar levemente exagerada – mas não muito. Este vinhaço segue um estilo bem internacional, mas tem um refinamento que denuncia sua origem francesa. Absolutamente sedutor, com taninos sedosos e um final longo. Maravilha. Para guardar na adega por muitos anos. Deve chegar a seu ápice daqui uma década, mas é daqueles vinhos que já nascem bons e não precisam envelhecer muito para dar um prazer imenso. Vendido na Premium, de Belo Horizonte, por alguma coisa ao redor de R$ 500 – preciso levantar o preço exato, esse aí é uma faixa de referência. Tomei no Varanda Grill, acompanhando uma seqüência de aves francesas preparadas com maestria pelo proprietário Sylvio Lazzarini. Brilhou com as aves, mas brilhará até mais com um Kobe bife da casa, que é uma manjar.


Corton les Renardes Grand Cru 1999 - Um Borgonha espetacular, que está no auge, pedindo, implorando, suplicando para ser bebido. Se você tem a sorte de contar uma belezinha dessas na adega, pode ir colocando a perdiz para marinar que não é necessário – e nem recomendável – esperar mais nada para abrir a garrafa. Os aromas complexos de terra molhada, folhas e flores secas, cedro e especiarias são o pano de fundo para a fruta madura que faz o ataque inicial no nariz. Enfim, está tudo lá. Felicidade garantida, daquele jeito que só a Borgonha garante. Vendido no Clube du taste Vin por alguma coisa entre R$ 200 e R$ 300.

Châteauneuf-du-Pape Lieux Telegraphe 2004 – Um bom Châteanueuf , que teve nota 94 da Wine Spectator. É menos exuberante e mais delicado do que a média dos vinhos dessa denominação, o que o torna ótima opção para acompanhar muitos pratos. É boa pedida, vinho sério, para conhecedores. Vendido na Expand por R$ 298.

Valduero Crianza 2003 – Vai ser difícil você gastar R$ 95 num vinho e fazer melhor negócio do que com este espanhol da região de Ribera del Duero. Não é um rótulo grandioso ou supercomplexo; tampouco conseguirá envelhecer décadas na adega. Mas é uma delícia, refinado, sensual, equilibrado, nem leve e nem ligeiro – tem tudo no lugar certo. Está simplesmente irresistível e deve permanecer assim por mais três ou quatro anos, pelo menos. É o tipo de vinho que agrada a todos, especialistas ou enófilos de primeira viagem. Da importadora Grand Cru.

Château Fontenil 2003 – Esse Bordeaux é feito pelas mãos talentosas de Michel Rolland, ele mesmo. Muita fruta e exuberância. Ainda novo, vai ganhar com um par de anos na adega e deve beber bem por pelo menos mais uma década. Foi tomado ao lado do Valduero acima descrito e, como ambos são da mesma safra, ficou bem visível o contraste de um produto que já está pronto e que não deve envelhecer demais para um bom rótulo de Bordeaux, que sempre pede um tempo maior de guarda. O Valduero já está no auge, mas o Fontenil claramente ainda precisa repousar um tanto para ficar no ponto. Cerca de R$ 180 na Grand Cru.

Porcupine Ridge Syrah 2005 – Ótima opção da África do Sul numa faixa não exorbitante – custa R$ 50 na Mistral. Muita madeira tostada no nariz, especiarias e um frutão só. Um vinho encorpado, para quem gosta de uma bebida que não passa desapercebida, mas que não descamba para a geléia. Vale a pena, mas para ser realmente um grande custo/benefício precisaria custar uns 15 reais a menos. Em todo o caso, a cada dia que passa, sou mais fã da África do Sul.

Santa Helena Seleccion del Directorio Chardonnay 2005 – Este me surpreendeu positivamente, porque é um produto vendido em grande quantidade no Brasil, disponível nas prateleiras de muitos supermercados. Tudo bem que é o top dessa linha da Santa Helena, mas achei que seria aquele padrão básico de Novo Mundo ruim que quer ser bom: madeira demais e elegância de menos. Bem, havia madeira em quantidade generosa, mas a fruta também acompanhava, a acidez equilibrava o conjunto e aparentemente a garrafa foi aberta na hora certa. E – não menos importante – com a comida certa: um prato de camarão na manteiga e alho. Ficou bom demais. Um vinho para os adeptos do estilo moderno. Para quem ainda está na fase de não gostar de brancos (é, tem isso) essa garrafa pode ser um bom começo para cair na real. Vendido por cerca de R$ 50 em qualquer esquina.

Steemberg Semillon 2006 – A uva Semillon é excelente alternativa para os amantes de Chardonnay que querem variar um pouco, pois é uma variedade branca que também aceita bem um tratamento com carvalho. É o caso deste exemplar, que consegue ter presença de boca para acompanhar muitos pratos, mas não é pesado. Tem a tal da “mineralidade”, leveza e um aroma exótico ao fundo que lembra derivados de petróleo, tipo querosene – isso mesmo – ou trufas e que é mais comum de se perceber em brancos de Riesling. Para mim, esse tipo de coisa é o cartão de visitas de um vinho de verdade, o que mostra que a coisa é séria e que você encontrará naquela garrafa algo que nenhum suco de frutas traz. Bela pedida a R$ 70 na Expand.

Coppola Blue Label Merlot 2003 – Californiano do famoso cineasta. Bebido às cegas, ninguém poderia duvidar que se trata de um Novo Mundo: é aquele doce só no nariz. Mas, para quem gosta do gênero, vale a pena. Um rótulo sedutor, macio, aveludado, como um bom Merlot deve ser. Bom vinho de meditação, para tomar sozinho pensando na vida. Sai ali pela faixa de R$ 150. Tomei no Rubaiyat, mas esqueci de anotar o importador.

Pol Roger Sir Winston Churchill 1996 – O melhor vinho que tomei este ano. Ok, estamos em março, mas... que vinhaço! Pode incluir 2007 aí, 2006, 2005... Champanhe com C maiúsculo. No Brasil, uma garrafinha dessas sai lá pelos R$ 700. Elegância, complexidade infinita, acidez certa. O que dizer? A leveza e graça de uma bailarina com a força de um peso-pesado, tudo junto na mesma taça. Se tivesse dinheiro para beber esse néctar todos os dias, beberia. Como, aliás, fazia o estadista inglês que era fã desse cuvée e que deu nome à sua versão atual. Churchill costumava apreciá-lo já no café da manhã. Gênio, gênio.

Bella Vista Brut Franciacorta – Este é o champanhe italiano, feito com as mesmas uvas empregadas em Champagne e com o mesmo método de produção de segunda fermentação nas próprias garrafas. Nada a ver com esse monte de Prosecco de décima categoria que infesta os supermercados (embora existam bons e até muito bons Prosecco). Vendido por pouco menos de R$ 150 na Expand, traz uma leveza, elegância e complexidade muito difíceis de serem encontradas em um espumante de fora da famosa região francesa. Vale conhecer.

Cloudy Bay 2005 – Este é o vinho que, com justiça, colocou os Sauvignon Blanc da Nova Zelândia na lista dos melhores brancos do mundo. Um maracujá incrível no nariz, com toques cítricos e florais. Muito perfumado, acidez generosa e bem encaixada. Belíssimo branco para acompanhar conchas em geral e frutos do mar leves. Vendido por cerca de R$ 100 pela LVMH.

Pronto! Beber foi fácil, mas custei a achar tempo para escrever. Semana que vem tem mais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ricardo, primeiro deixe-me expressar minha inveja. Cada vinho que você andou tomando! Depois, esse texto mostra como você é eclético, pois temos vinhos de estilos muito diferentes com bons comentários seus. É isso aí. Acho que vale falar dos vinhos caros sim, é fundamental para os enófilos conhecerem até quando não podem comprar. Mas quando puder comente também dos mais mais baratos, que todos podemos beber com mais frequencia. Vinho de 70 reais para baixo, mais ou menos. Abraços.

Unknown disse...

Ricardo,
Compartilho o sentimento do colega Fernando...Ô Inveja boa!!!! Parabéns pela oportunidade de degustar todos esses vinhos.
Com relação ao site, tenho certeza que será um projeto importante para você e uma grande ferramenta para os iniciantes e iniciados no mundo dos vinhos. Sucesso nessa nova empreitada.
Abraços,
Bruno Cunha

Unknown disse...

Oi Ricardo, tudo bem? Enviei um e-mail pra você a respeito da pré-estréia do filme Estômago. Gostaria de confirmar se você o recebeu, e saber seu interesse ou disponibilidade para a data! Se puder, pode me responder via e-mail (francine@salem.com.br). Muito obrigada!

Anônimo disse...

Ricardo,
Você soube qual vinho estava sendo vendido no Bazar do Abadia, realizado no Jockey Club?