E saiu a edição de 2007 dos top100 da Wine Spectator, a lista dos melhores vinhos do mundo na opinião da influente revista americana. Por melhores, entenda-se não apenas os produtos que ganharam as maiores notas, mas os que apresentaram equilíbrio entre pontuação, preço, disponibilidade no mercado americano (um critério que, portanto, não serve para o Brasil) e a capacidade de surpreender os críticos da publicação. Claro, qualquer ranking desse tipo está sujeito a muitas contestações. Há vinhos ali que eu não incluiria e outros tantos que simplesmente não consigo entender por que ficaram de fora do levantamento. Pode-se desconfiar que critérios econômicos pesaram mais do que os técnicos na escolha dos campeões. Pode-se desconfiar que depois de destacar uma vinícola num ano, a revista prefere dar a vez a outros produtores (produtores = anunciantes) na lista seguinte. Pode-se desconfiar que o gosto de algumas pessoas que trabalham lá talvez não seja tão apurado quanto deveria. Pode ser. Mas criticar a Wine Spectator é tarefa fácil, que muita gente faz – estou me incluindo aí. Desta vez quero chamar atenção para o lado positivo da lista.
Veja só: dos 100 rótulos destacados este ano, nada menos do que 59 custam 35 dólares ou menos – um preço bem razoável por aqui (cerca de R$ 60) e ainda mais razoável num mercado de maior poder aquisitivo, como os Estados Unidos. Alguns são verdadeiras pechinchas, como o Bodegas Borsao Garnacha Campo de Borja Tres Picos 2005, que sai por 12 dólares (20 reais), ou o Columbia Crest Merlot Columbia Valley Grand Estates 2004, por 11 dólares. Merece aplausos uma lista que destaca produtos acessíveis, não apenas os ícones de preço absurdo. Bem melhor assim.
Mesmo o grande campeão do ranking – o Clos des Papes Châteauneuf-du-Pape 2005 – tem um preço para lá de realista: 80 dólares. Sei que esse valor pode ser considerado alto para muita gente, mas estamos falando de um vinhaço, que flerta com a perfeição (mereceu 98 pontos). No geral, os dois produtos mais pontuados este ano foram o champanhe Krug Brut 1996 (99 pontos, 250 dólares) e o Valdicava Brunello di Montalcino Madonna del Piano Riserva 2001 (100 pontos, 175 dólares).
Infelizmente, esses são os preços nos Estados Unidos. Para saber quanto custa no Brasil, multiplique os valores pelo menos por três – e, não raro, por quatro ou cinco. A apreciação do real melhorou a vida dos brasileiros amantes de vinho, mas ainda assim pagamos caro demais por nossas garrafas.
A Wine Spectator tem dado enorme destaque para a apelação de Châteauneuf-du-Pape, no Vale do Rhône. Faz sentido, porque temos aí realmente alguns grandes vinhos franceses a preços menos salgados que em Bordeaux e muitíssimo menos do que na Borgonha. A gloriosa terra do Romanée-Conti, aliás, passou novamente apagada na lista dos top 100. Uma injustiça pela qualidade de seus rótulos. Uma justiça absoluta pelo preço exorbitante deles. Entre os 20 primeiros colocados, temos nada menos do que quatro Châteauneuf-du-Pape, incluindo o campeão.
Interpreto esta lista da seguinte forma: vale olhá-la com atenção para descobrir algumas novidades e bons custo/benefício. Nesse ponto, a grande quantidade de rótulos baratos é louvável. Mas os top 100 não são os melhores vinhos do mundo em matéria de qualidade absoluta – pelo menos não todos os integrantes da lista. E, como já escrevi diversas vezes, é sempre bom desconfiar das notas da Wine Spectator (e de qualquer crítico, em geral). Servem como referência, mas às vezes escorregam feio.