quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cinzas


Ufa! Chegou a quarta-feira de cinzas. A denominação desse dia faz mais sentido do que nunca após um carnaval na Bahia, de modo que este será um texto curto apenas para dizer que estou (meio) vivo -- e para compartilhar algumas breves idéias a respeito de vinhos, claro. Estive em Salvador a convite da fabricante de charutos Menendez Amerino, que detém as marcas Alonso Menendez e Dona Flor. A empresa organizou um belíssimo camarote no circuito do Campo Grande, o mais antigo da cidade. O espaço estava muito bem servido de comidas e bebidas, mas passei ao largo dos vinhos. O máximo que fiz foi tomar meia taça do sempre honesto (e nunca empolgante) espumante básico da Salton. E só.

Para além das discussões inflamadas – talvez inflamadas demais em alguns casos – que os últimos posts levantaram sobre estilo Novo Mundo x Velho Mundo, isso me faz pensar que o mais importante no momento de escolher um vinho é... o momento, justamente. Ok, todo mundo que lê este blog já cansou de saber que acho os rótulos feitos em estilo tradicional mais fáceis de harmonizar com comida. Mas até este “eurocêntrico” aqui admite que há casos em que existem opções melhores da Argentina, Chile ou Austrália do que da velha Europa. Seja por custo/benefício, seja por ser um dia frio que pede um vinhão encorpado, seja porque estes países do Novo Mundo têm mesmo ofertas consistente de produtos maravilhosos que merecem ser conhecidos.

Sim, e também há casos em que outras bebidas podem descer melhor do que vinho. Num barzinho no Rio de Janeiro, perto do mar, de chinelo, sal no corpo e um sol de 40 graus na cabeça... alguém consegue pensar em algo melhor do que um chope bem tirado? Com uma feijoada entre amigos, num lugar simples e despojado, fica difícil resistir a uma caipirinha. E ali, no carnaval de Salvador, com aquele calor e o clima informal – informal é eufemismo --, com a oferta de acarajé e outras comidas típicas, simplesmente não achei lugar para a minha bebida preferida. Fui de cerveja mesmo. Não me arrependi.

Há um outro capítulo nessa história que é a harmonização de charutos com bebidas. Obviamente o camarote da Menendez tinha diversas opções à disposição. É realmente difícil combinar "puros" com vinhos. Apenas os fortificados, como Porto, resistem. Mesmo assim, se eu tiver um grande Porto envelhecido em casa, jamais tomaria junto com charuto. No camarote havia uísque 12 anos e, melhor ainda, algumas cachaças com passagem em madeira. No futuro pretendo fazer um texto mais detalhado sobre compatibilização de charutos com bebidas. Por ora, vou curtir minha quarta-feira de cinzas. Mais uma vez, sem vinho. Hoje nada vai harmonizar melhor do que um belo copo de água mineral.