segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Gosto não se discute?


Por trás dos dois últimos textos que publiquei, há uma mesma questão fundamental: existe algo como “gosto certo” e “gosto errado” para vinho? Sim, porque uns acham que determinado rótulo merece 98 pontos, enquanto outros consideram que uma nota 90 já estaria de ótimo tamanho; uns elegem o Chile como melhor país produtor da América do Sul, outros defendem a Argentina e um terceiro grupo sustenta que o título deveria ir para o Uruguai.

Em contraposição às opiniões mais contundentes, existe aquele velho papo de que gosto não se discute. Por esse raciocínio, é impossível haver certo ou errado em toda a sorte de preferências -- seja por time de futebol, poesia, filmes, mulheres, quadros, comidas, bebidas ou qualquer outra coisa. Se prefiro guaraná a tubaína, quem pode dizer que estou errado? Se acho um Malbec argentino de 15 reais melhor que um Romanée-Conti 1985, qual a equação matemática, qual a legislação, qual a escritura sagrada ou a tábua dos mandamentos que diz que estou cometendo um equívoco imperdoável?

Bem, bem, bem... vamos analisar um pouco esse tema. A coisa não é tão simples. Acho que gosto é para ser discutido, sim – mais do que isso, é para ser desenvolvido, treinado, aperfeiçoado. Aprendido, enfim. Não se trata de uma posição pedante do “especialista” dizer ao “leigo” o que é bom e o que é ruim. Trata-se de formar um senso crítico e desenvolver uma sensibilidade apurada por prestar muita atenção em algo. E isso vale para tudo, não apenas vinhos. Muitas coisas boas da vida precisam ser aprendidas para serem usufruídas em sua plenitude.

Nenhuma criança entende como um quadro de Picasso pode ser revolucionário ou como um texto de Proust é profundo. É necessário ter certa bagagem para isso. Mesmo exemplos mais prosaicos são válidos. Alguém que segue assiduamente um esporte qualquer, como futebol ou tênis, por exemplo, será capaz de se deliciar com um lance genial, pois saberá que presenciou algo raro, executado com maestria. Aos olhos de uma pessoa que jamais acompanhou com atenção essa atividade, a mesma jogada terá muito menos graça, porque faltará base de comparação.

Moral da história: não é que exista propriamente gosto certo e gosto errado para vinho, mas existem, sim, níveis de desenvolvimento para apreciar essa bebida. Quem toma duas ou três garrafas por ano sem prestar muita atenção, por vezes junto com uma comida que nem combina direito, certamente não terá uma compreensão tão profunda como quem tem no vinho um hobby e está a todo momento lendo, discutindo e experimentando coisas novas.

Tudo muito bem, tudo muito bom, mas o que explica então a disparidade de opiniões entre críticos e especialistas, todos com um currículo que daria para encher um açude? Aí entra uma questão de “escola” e do peso que cada qual confere aos diferentes aspectos que compõem a avaliação de um vinho. Há aqueles que preferem produtos mais encorpados e exuberantes, que seguem um estilo moderno, como Robert Parker (foto acima). Outros, como nosso Ed Motta, são fãs de uma linha tradicional e sutil. O que eles têm em comum, contudo, é que sabem o que fazem -- cada um na sua praia, mas sabem. Se você gosta de vinhos concentrados, com um toque de madeira evidente, fruta explosiva e taninos macios, pode seguir as notas do Parker que a felicidade é quase garantida, salvo um ou outro escorregão até perdoável para quem experimenta uma taça atrás da outra como se fosse uma linha de montagem. Mas se prefere bebidas mais elegantes, leves e com mais acidez, vai quebrar a cara com muito “RP 98” por aí.

Por isso o importante é ir formando seu paladar aos poucos, sem pressa e sem medo de voltar atrás e reconsiderar antigas opiniões. Experimente sempre, prove produtos diferentes, e preste atenção aos defeitos e qualidades de cada um. É muito normal o sujeito começar a gostar de vinhos pelos rótulos mais “porrada”, que são mesmo sedutores e marcantes, e depois mudar para os mais elegantes, sutis, que respeitam mais a comida e são menos óbvios. Comigo foi assim. E ainda acho que tenho muito, mas muito a evoluir.

Se você aprecia vinhos, discuta seus gostos, sim. Não para ter razão ou deixar de ter, muito menos para impor seu ponto de vista, mas simplesmente pelo prazer de debater um assunto tão interessante – e para continuar aprendendo sempre.

23 comentários:

Anônimo disse...

É isso mesmo. Dizer que gosto não se discute é muito fácil, mas não é bem assim. Apreciar vinhos a fundo exige um aprendizado, sim senhor. Claro que qualquer um pode gostar de vinho como leigo, da mesma forma que (para usar um exemplo seu) uma criança pode achar um quadro do Picasso "bonito" mesmo sem entender nada. Mas para apreciar com "conhecimento de causa" é preciso ter algum conhecimento. As pessoas ficam com medo de falar isso porque acham que é uma posição que vai afastar o consumidor comum dessa bebida, fica parecendo que vinho é só para entendidos. Mas, ao contrário, acho que esse tipo de texto deveria ser um chamado para que as pessoas experimentem mais, leiam mais, conversem mais e assim formem um paladar para vinhos melhor embasado, e não apenas aquele "achismo", "acho bom", "acho ruim", e não sabem explicar por que gostaram ou deixaram de gostar...

Anônimo disse...

Eu não sou nenhum expert em vinhos, mas tenho meu gosto e normalmente acho desagradável quando outros dizem ou sugerem que minhas preferências estão erradas. Gosto não é algo pessoal de cada um? Mas nunca tinha parado para pensar que gosto também se aprende, se aprimora. Faz sentido.

Anônimo disse...

Caro Ricardo, para ajudar o seu leitor a entender o gosto do Robert Parker por vinhos do tipo fruta explosiva..., sem elegancia..., listei abaixo todos os vinhos franceses que ja ganharam 100 pontos dele. Se sua argumentacao estiver correta, sao todas geleias deselegantes:
2000 Ausone
2003 Ausone
1990 Beausejour (Duffau Lagarrosse)
2000 Chapoutier Ermitage Cuvee de l'Oree
1999 Chapoutier Ermitage l'Ermite Blanc
2000 Chapoutier Ermitage l'Ermite Blanc
2003 Chapoutier Ermitage l'Ermite Blanc
2004 Chapoutier Ermitage l'Ermite Blanc
2004 Chapoutier Ermitage le Meal Blanc
1991 Chapoutier Cote Rotie la Mordoree
2003 Chapoutier Ermitage l'Ermite
1989 Chapoutier Ermitage le Pavillon
1990 Chapoutier Ermitage le Pavillon
1991 Chapoutier Ermitage le Pavillon
2003 Chapoutier Ermitage le Pavillon
1989 Chateau Beaucastel Chateauneuf du Pape Hommage A Jacques Perrin
1990 Chateau Beaucastel Chateauneuf du Pape Hommage A Jacques Perrin
1998 Chateau Beaucastel Chateauneuf du Pape Hommage A Jacques Perrin
1811 Chateau d'Yquem
1847 Chateau d'Yquem
2001 Chateau d'Yquem
1995 Chateau La Graviere Tirecul Vendange Tardive Cuvee Madame
1900 Chateau Margaux
1990 Chateau Margaux
2000 Chateau Margaux
2003 Chave Hermitage
1990 Chave Hermitage Cuvee Cathelin
2003 Chave Hermitage Cuvee Cathelin
1947 Cheval Blanc
2000 Cheval Blanc
2001 Climens
1989 Clinet
2005 Clos Saint-Jean Chateauneuf du Pape Deus Ex Machina
1993 Domaine Claude et Maurice Dugat Griotte Chambertin
2001 Domaine de la Mordoree Chateauneuf du Pape Cuvee de la Reine des Bois
1986 Domaine de la Romanee Conti Montrachet
1990 Domaine de la Romanee Conti La Tache
1929 Domaine de la Romanee Conti Richebourg
1985 Domaine de la Romanee Conti Romanee Conti
2001 Domaine de la Vieille Julienne Chateauneuf du Pape Cuvee Reservee
2003 Domaine de la Vieille Julienne Chateauneuf du Pape Cuvee Reservee
2005 Domaine de la Vieille Julienne Chateauneuf du Pape Reserve
1998 Domaine de Marcoux Chateauneuf du Pape Vieilles Vignes
2001 Domaine du Clos du Caillou Chateauneuf du Pape Reserve le Clos du Caillou
1998 Domaine du Pegau Chateauneuf du Pape Cuvee da Capo
2000 Domaine du Pegau Chateauneuf du Pape Cuvee da Capo
1985 Domaine Leroy Hospices de Beaune Cuvee Madeleine Collignon
1991 Domaine Leroy Latricieres Chambertin
1998 Domaine Roger Sabon Chateauneuf du Pape le Secret de Sabon
2001 Domaine Roger Sabon Chateauneuf du Pape le Secret de Sabon
2001 Domaine Weinbach Gewurztraminer Furstentum Quintessence de Grains Nobles
1990 Domaine Zind Humbrecht Gewurztraminer Heimbourg Vendange Tardive
1989 Domaine Zind Humbrecht Pinot Gris Clos Windsbuhl Vendange Tardive
1990 Domaine Zind Humbrecht Pinot Gris Clos Windsbuhl Vendange Tardive
1990 Domaine Zind Humbrecht Tokay Clos Windsbuhl Vendange Tardive
1990 Domaine Zind Humbrecht Tokay Pinot Gris Clos Jebsal Selection de Grains Noble
1985 Guigal Cote Rotie la Landonne
1988 Guigal Cote Rotie la Landonne
1990 Guigal Cote Rotie la Landonne
1998 Guigal Cote Rotie la Landonne
1999 Guigal Cote Rotie la Landonne
2003 Guigal Cote Rotie la Landonne
1976 Guigal Cote Rotie la Mouline
1978 Guigal Cote Rotie la Mouline
1983 Guigal Cote Rotie la Mouline
1985 Guigal Cote Rotie la Mouline
1988 Guigal Cote Rotie la Mouline
1991 Guigal Cote Rotie la Mouline
1999 Guigal Cote Rotie la Mouline
2003 Guigal Cote Rotie la Mouline
1985 Guigal Cote Rotie la Turque
1988 Guigal Cote Rotie la Turque
1999 Guigal Cote Rotie la Turque
2003 Guigal Cote Rotie la Turque
2003 Guigal Hermitage Ex Voto
1945 Haut Brion
1989 Haut Brion
1990 Henri Bonneau Chateauneuf du Pape Reserve des Celestins
1921 L'Eglise Clinet
1947 L'Eglise Clinet
2000 La Clusiere
1955 La Mission Haut Brion
1959 La Mission Haut Brion
1961 La Mission Haut Brion
1975 La Mission Haut Brion
1989 La Mission Haut Brion
2000 La Mission Haut Brion
1953 Lafite-Rothschild
1982 Lafite-Rothschild
1986 Lafite-Rothschild
1996 Lafite-Rothschild
2000 Lafite-Rothschild
2003 Lafite-Rothschild
1945 Lafleur
1947 Lafleur
1950 Lafleur
1975 Lafleur
2000 Lafleur
1961 Latour
1947 Latour a Pomerol
1961 Latour a Pomerol
1982 Leoville-Las Cases
1990 Les Cailloux (Lucien et Andre Brunel) Chateauneuf du Pape Cuvee Centenaire
1998 Les Cailloux (Lucien et Andre Brunel) Chateauneuf du Pape Cuvee Centenaire
1999 Michel Ogier Cote Rotie Cuvee Belle Helene
1990 Montrose
1945 Mouton-Rothschild
1959 Mouton-Rothschild
1982 Mouton-Rothschild
1986 Mouton-Rothschild
1961 Paul Jaboulet Aine Hermitage la Chapelle
1978 Paul Jaboulet Aine Hermitage la Chapelle
1990 Paul Jaboulet Aine Hermitage la Chapelle
2000 Pavie
1921 Petrus
1929 Petrus
1947 Petrus
1961 Petrus
1989 Petrus
1990 Petrus
2000 Petrus
1982 Pichon-Longueville Comtesse de Lalande
1999 Rene Rostaing Cote Rotie Cote Blonde

José Luiz disse...

Essa foi realmente boa André...

Anônimo disse...

André, eu nunca disse que o Parker só dá boas notas a "geléias deselegantes". Desculpe se dei essa impressão, mas se você ler o texto de novo, com mais atenção, vai reparar que não escrevi isso. O que escrevi é que ele tem um gosto que vai no sentido de vinhos mais encorpados, concentrados e exuberantes. E que se o seu gosto pessoal também vai por aí, então seguir as dicas do Parker é uma boa idéia. Em relação à lista que você gentilmente publicou, repare só que coisa interessante: ela me parece ter um claro predomínio de vinhos do Vale do Rhône (Hermitage, Cote Rotie e Chateauneuf-du-Pape). Não é curioso que justamente uma das regiões que geram os vinhos mais encorpados, alcoólicos e concentrados da França seja a que mais ganha notas 100 de Parker? No Vale do Rhône reina a exuberante Syrah e vinhos com 14% + graus de álcool são comuns há muito tempo, mesmo numa época em que as demais regiões raramente passavam dos 13%... curioso, não? Seus brancos também são muito concentrados. A lista também destaca diversos grandes de Bordeaux, mas estamos falando de um punhado de vinhos consagrados e adorados por todos os críticos. E, aliás, Bordeaux gera produtos bastante exuberantes, que unem elegância com muita força. Repare que na safra de 2003, que foi super quente em Bordeaux (e em várias partes da Europa), consequentemente propiciando vinhos mais concentrados e de maior teor alcoolico, foi uma em que Parker mais deu boas notas para os produtos bordaleses -- não necessariamente notas 100, mas muitas notas acima de 90 pontos para chateaux que normalmente ficam abaixo dessa pontuação em quase todas as safras. Ainda em relação à lista que você publicou, curioso também que a Borgonha, uma das mais famosas e cultuadas regiões produtoras do mundo, tenha tão poucos representantes nesse levantamento, salvo alguns rótulos da Domaine de la Romanee Conti que são unanimidade mundial. Por que será, hein? Será porque a uva pinot noir, empregada nos tintos de lá, quase sempre gera produtos mais delicados e leves, com menos peso e menos extração de cor? Será porque a Borgonha é a região do mundo vinícola onde o adjetivo "elegante" é mais empregado -- muito mais que a palavra "força", por exemplo? Dito isso, mais uma vez, não quero deixar a impressão aqui de que acho que o Parker não sabe o que faz e que só dá boas notas para "geléias". Não é isso. Acho o Parker um grande crítico em muitos aspectos, admiro sua carreira e seu papel para desmistificar o vinho e aproxima-lo do consumidor. Essa lista mesmo prova isso: são todos aí vinhos inegavelmente maravilhosos. Muitos deles, talvez a maioria, não são apenas exuberantes, mas também complexos e elegantes. Sem dúvida! Mas Parker é um grande crítico que, sim, pende mais para o lado dos vinhos concentrados do que dos elegantes. Quando um vinho consegue ser as duas coisas ao mesmo tempo, ótimo para todo mundo. Quando não consegue, Parker dá notas maiores para os superconcentrados do que para os superelegantes. Parker é mais para Rhône do que para a Borgonha. Mais para os rótulos modernos de Austrália e Califórnia do que para os clássicos, refinados e longevos Nebbiolo do Piemonte. É a linha dele. Dentro dessa linha, ele é ótimo. Mas há escolas de degustadores que conferem peso maior a outros aspectos, como a elegância, leveza e o caráter particular de um vinho, o que o torna único e não-padronizado. Seguir uma linha ou outra depende de seu gosto pessoal.

Anônimo disse...

O fato é que voce passa ao seu leitor que concentracao e elegancia sao antonimos o que nao me parece correto. Aos mais desavisados parece que os vinhos mais leves, com menos alcool possam ser mais elegantes que vinhos com maior concentracao e com mais alcool.
Para mim elegancia é o balanço entre alcool, taninos e acidez. Se o vinho esta balanceado, ele é elegante. Ja tomei vinhos elegantes com até 16.5% de alcool.
Mais ainda, precisamos desmistificar essa balela de teor alcolico: os vinhos franceses vem com o teor alcolico permitido pela apelacao, sem tem menos um mais alcool, eles mentem, isso mesmo, eles fraudam o sistema, sempre fizeram isso, e nao importa pro consumidor, porque se o vinho for balanceado, nem eu nem voce nem o RP conseguem distinguir a diferenca de alcool entre um vinho de 13% e um de 15%.
Portanto, concentracao e elegancia nao se contrapoe.
Quanto a predominancia de Bordeaux e Rhone sobre Burgundy, vale lembrar que Bordeaux e Rhone produzem um quantidade de vinhos excelentes muito maior que Burgundy. Burgundy, tem vinhos fantasticos, caros, produzidos em pequenissimas quantidades, mais sao poucos rotulos que valem a pena, eles sao mais uma febre cult para parvenus e novos-ricos do mundo todo do que uma regiao que so produz vinhos fantasticos.
Em tempo, quem é Ed Motta ? É um famoso critico de vinhos ai do Brasil ?

Anônimo disse...

André, desculpe se estou passando as impressões erradas no meu texto. Provavelmente não estou me expressando bem. Primeiro você achou que eu considero o Parker um crítico ruim que só dá boas notas para "geléias deselegantes". Não é verdade. Eu acho que ele é um crítico bom que tem um viés favorável a vinhos de caráter moderno e encorpado. Depois passei a impressão de que concentração e elegância são antônimos. Não acho que a coisa seja tão simples. Às vezes são antônimos sim, pois hoje em dia há tantos vinhos "pesados" demais, que são concentrados mas não trazem um pingo de elegância a ponto de ser quase impossível de harmonizar esses rótulos com comida. Mas outras vezes não são antônimos, porque pode acontecer de um vinho ter força, ter exuberância, mas ainda assim não perder o senso de elegância. Quando isso acontece, freqüentemente estamos diante de uma grande garrafa! Sei que elegância pode ser definida como "equilíbrio entre álcool, tanino e acidez" -- isso se aprende em qualquer curso de meia hora para iniciantes no mundo do vinho. Sei também que existem vinhos de alto teor alcoólico que são equilibrados. Não acho que todo vinho de 14,5% para cima são deselegantes, mas acho que uma porcentagem alta deles é deselegante sim. As modernas técnicas de manejo de vinhedos, escolha da hora de colher e de vinificação fazem com que muitas vinícolas em todo o mundo tenham resolvido antigos problemas que assombravam o mundo dos vinhos: taninos ruins e muito aparentes, vinhos apagados, sem fruta e sem charme, ou muito ácidos. E isso fez com que entrássemos numa era de ouro da vinicultura. Acho que hoje, na média, temos maior quantidade de grandes vinhos provenientes de muitos lugares diferentes do que jamais tivemos. Por outro lado, como nada é 100% perfeito, o efeito colateral desses avanços é que algumas vinícolas passaram a fazer produtos que ficaram exageradamente frutados e meio pesadões. Foram de um extremo para outro. Cada época tem seus problemas mais evidentes... acho que o nosso, hoje, é a falta de elegância. Espero ter explicado melhor minha posição agora. E obrigado por contribuir e enriquecer as discussões no Carta de Vinhos. Abraços, Ricardo

José Luiz disse...

Ricardo,

Os textos do André, muito contributivos, foram extremamente bem colocados. Além disso, pode-se perceber uma rara e fina ironia.

Não seja deselegante ao responder afirmando que "isso se aprende em qualquer curso de meia hora para iniciantes no mundo do vinho". O que se aprende em meia hora, infelizmente, é a criticar trabalhos sérios e respeitados, como o do Parker.

Abs,

José Luiz

Anônimo disse...

José Luiz, eu respeito a opinião de todos e agradeci a contribuição do André ao debate. Este é um espaço democrático e pretendo mantê-lo assim -- eu poderia simplesmente retirar de meu blog os comentários dos quais discordo, mas nunca faço isso. Mantenho todos publicados aí, mesmo aqueles que interpretam o que escrevi de uma forma que não gosto ou os que dizem que meus textos trazem informações erradas. Até porque eventualmente erro mesmo e é ótimo que os leitores apontem as falhas. Não sou dono da razão e acho que a grande graça dos blogs é esse debate, essa interação. Aprendo muito com os comentários de vários leitores. Só retiro os comentários se usarem palavras de baixo calão ou algo muito agressivo, o que felizmente quase nunca acontece aqui. No caso do André, diversos de seus argumentos e informações estão corretos e são instrutivos, ele parece conhecer muito de vinhos. Apenas acho que ele tirou algumas conclusões próprias sobre o que escrevi que não correspondem ao que penso de verdade. Mas talvez o erro tenha sido meu de me expressar de forma pouco clara. Em relação à frase "isso se aprende em qualquer curso de meia hora para iniciantes no mundo do vinho" eu não quis ser deselegante, apenas escrevi um fato porque aprendi isso no módulo básico do curso da ABS muitos anos atrás...

Anônimo disse...

De onde vocês tiraram que o Ricardo disse que o Parker é um crítico ruim? Ele não escreveu isso e nem sugeriu. Só apontou uma linha que o Parker segue e acho que apontou muito bem. Parece que vocês leram outro texto, não o mesmo que eu li.

Anônimo disse...

O Parker pode ser sério, mas tem seus pecados. Critica-lo talvez seja facil, mas critica-lo de forma inteligente como o Ricardo fez não só é difícil como é útil para quem gosta de vinhos. E o que essa lista de vinhos com 100 RP prova? Esses vinhos ai ate eu dou nota máxima.

Anônimo disse...

Ana, voce tem razao, até voce dá nota 100 para qualquer um desses vinhos. O que difere o RP de voce e dos demais criticos é que ele foi o primeiro a dar notas baixas, até mesmo mediocres, para muitos desses vinhos (nao exatamente as safras acima relacionadas). E por isso ele foi excomungado de muitas vinicolas francesas. O mercado agradeceu e, depois disso, muitos produtores famosos de vinhos mediocres, notadamente de Burgundy, comecaram a se dedicar mais em fazer melhores produtos que fizessem valer a fama que tinham. Essa melhora circunstancial na qualidade dos vinhos do mundo todo nos ultimos 20 anos, voce deve, em grande parte ao Parker.

Ricardo, acho o seu blog bem interessante e por isso mando minhas criticas. Mas o que realmente gosto é de dar umas espetadas em oenophilos eurocentricos. Nao leve a mal. Quem sabe um dia faco o "curso basico", me mudo para Franca e adieu vins du nouveau monde.
By the way, ja descobri quem é Ed Motta, é o filho daquele cantor gordao de bigode que cantava umas baladas romanticas, esqueci o nome dele...Tim Maia ?

José Luiz disse...

Ricardo,
A qualidade dos seus textos e dos comentários é que faz deste blog, sem dúvida, um dos melhores da atualidade. Compreendo o seu texto e as observações do André como complementares. Procure não desmerecer e nem se colocar acima de seus leitores.

André,
Caso vc não saiba, Ed Motta é um dos melhores e mais criativos músicos brasileiros contemporâneos e, sem dúvida, um grande conhecedor de raridades na música. A propósito, ele não é filho do Tim Maia, mas sobrinho. Quanto ao mestre Tim, recomendo a leitura do livro Vale Tudo, escrito pelo Nelson Motta e lançado no ano passado...

Fui...

Anônimo disse...

Caros, essa discussão foi meio acalorada, mas meu objetivo é levantar polêmica e debater mesmo. Obrigado a todos pela colaboração e pelos comentários. Abraços

Luiz Horta disse...

Acho demonizar o Parker uma coisa sem sentido, estilo Nossiter e Mondovino. O livro dele sobre Bordeaux mora na minha cabeceira, junto com o Hugh Johnson e Jancis Robinson. Mas daí para atribuir a ele a melhora dos vinhos da Borgonha vai uma distância infinita. Menos Andre, vc marca um ponto importante defendendo o que o RP tem de positivo, mas não vamos exagerar, ele é só um crítico, os limites ao poder da crítica existem e são claros. Ainda não houve um estudo satisfatório do impacto de Parker sobre a moldagem do gosto do consumidor no século 20, eles virão certamente, por enquanto há mais especulação que verdade. A biografia de Erin McCoy levanta algumas possibilidades, mas não avança. Bobagem vestir camisa de algum lado do Atlântico, ou ser hooligan de Parker ou ingleses, bom aproveitar o que eles produziram de interessante na literatura do vinho e manter o ceticismo no pisca-alerta. Bom debate este, de toda maneira.

Anônimo disse...

O Parker é sem dúvida uma figura importantíssima na história recente dos vinhos. Ele é um crítico com muitos méritos, e de fato ajudou a apontar que alguns grande produtores viviam de fama de glórias passadas. Mas tem sim uma linha de preferência muito clara, como apontou o Ricardo. O Parker é craque em Bordeaux, Rhone, Califórnia, mas não entende muito as sutilezas da Borgonha e do Piemonte, por exemplo. Ele tem uma queda clara e óbvia por vinhos muito encorpados. Tanto que não apenas este blog, mas Spurrier, Jancis Robinson e outros críticos excelentes apontam esse viés do Parker. Claro que o Parker é bom crítico, mas erra também. Eu já tomei alguns custo / benefício que ele indicou com 90, 91 pontos que eram péssimos, umas compotas engarrafadas.

Anônimo disse...

Eu gosto tanto de vinhos "encorpados e exuberantes", quanto de "tradicionais e sutis", e não sinto necessidade de me filiar a esta ou aquela corrente. Gosto de harmonizar os vinhos com comida, e nesse caso opto quase sempre por vinhos mais delicados, frutados, com boa acidez e menos álcool. Mas às vezes tenho vontade de tomar vinhos mais potentes, encorpados, explosivos, etc. Acho delicioso um desses vinhos num dia mais frio, sentado na varanda, com os amigos. Tudo depende da ocasião, das pessoas envolvidas, do clima.

Anônimo disse...

Alexandre, assino embaixo do que você escreveu. É isso aí.

Anônimo disse...

O Alexandre "matou a pau".
Não devemos nos esquecer que o vinho é um convite à confraternização, convívio e também à reflexão.
Há momentos para todos os tipos e qualidades.

Anônimo disse...

Alexandre, parabéns pelo comentário inteligente. Bem melhor do que alguns aqui que leram o texto, não entenderam direito o que leram, depois despejaram uma lista enorme e manjadíssima de grandes vinhos franceses para supostamente provar com isso que o ponto que ele achou que o texto defendia (e não defendia, porque ele não entendeu o que leu) estava errado. Ainda vem outro e classifica essa atitude como rara e fina ironia... é demais.

Anônimo disse...

Jose Luiz, genial. Nada como um sabichao dos vinhos como voce pra por um ponto final na discussao.

Ricardo Leite disse...

Caro Ricardo,

Essa sua mania disfarçada de tentar provar que os vinhos clássicos, ditos elegantes, são melhores que os potentes e concentrados (também chamados ironicamente de vinhos "porrada" e "disneylandia"...) já deu o que tinha que dar. Sugiro que seja menos insistente e mais coerente em seu discurso, pois todos que acompanhamos seu blog já estamos carecas de saber sua preferência.

Anônimo disse...

Eta povinho bairrista, parece que tão defendendo cada um o seu time de futebol, e o pior é que alguns se acham entendedores, pois se o fossem saberiam respeitar a opnião de cada um, inclusive daquele que escreve este blog. É óbvio que o Ricardo tem uma preferência por estilos, nem por isso deixa de provar e conhecer outros estilos, o ruim seria se ele só falasse aqui sobre um estilo de vinho. Assim são os críticos, por mais que tentem ser imparciais sempre vão pender para o lado que mais agrada seu paladar, olfato e visão. Isso é ser humano, talvez algum dia qdo houver uma máquina que deguste com precisão, ai sim haverá um conceito de qual é o melhor estilo, porém pode ser que não seja o meu estilo preferido. E dai !!!